13 setembro 2007

De volta a Portugal

Estou de volta a Portugal — o país não do sol nascente, mas do sol que se põe no horizonte do mar.

Praia

Viver um ano no Japão foi uma experiência realmente fantástica. E o programa Vulcanus correu acima das minhas expectativas a todos os níveis: aprendi imenso da língua e cultura Japonesa, e o estágio na Yamaha Motor foi também um sucesso.

Claro, tal como grande parte dos meus colegas, tenho planos de voltar lá outra vez.

06 agosto 2007

Hiroshima

Hoje é o 62º aniversário do uso da bomba atómica na cidade de Hiroshima. À duas semanas visitei a cidade.

Antes de mais quero avisar que aqui está escrita a minha opinião sobre o bombardeamento. É uma opinião parcial e sem qualquer autoridade no assunto.

Este é o edifício agora conhecido como Gembaku Dome, um dos poucos que sustentou o impacto da bomba atómica (justamente porque esta explodiu imediatamente por cima a cerca de 600m, e as paredes são mais resistentes a esforços verticais que horizontais).

Hiroshima

À primeira vista parece apenas um edifício em ruínas. A imagem ganha mais impacto quando vemos fotografias tiradas logo após a explosão, e se vê pouco mais restou para além destas ruínas.

Hiroshima

Cerca de 70000 pessoas morreram imediatamente com a explosão. Outras tantas acabariam por morrer nos meses seguintes devido às queimaduras e radiação. Entre essas estava uma criança chamada Sadako que, inspirada por um provérbio popular em que seria concedido um desejo a quem fizesse 1000 pássaros de papel, dobrou centenas mas acabou por morrer. Foi erguido um monumento em memória da Sadako e de muitas outras crianças vítimas da explosão.

Hiroshima

Ao lado deste monumento são recolhidos pássaros de papel feitos por crianças de todo o Japão. Em toda a zona perto do ground zero existem vários outros monumentos em memória das vítimas.

Aí também está um museu sobre o bombardeamento, que focava tudo: desde o cenário político pré- e pós-guerra, funcionamento da bomba, ao horrendos efeitos da explosão no ser humano. Eis uma das maquetes presente na exposição que mostra antes e depois da bomba:

Hiroshima Hiroshima

Uma das primeiras coisas que salta a vista é que o alvo foi a população cívil, e uma pergunta-se com que propósito ou direito? Na verdade, quer antes quer depois de visitar Hiroshima foram muitas as perguntas que me surgiram. Com a minha mente sistemática, por vários dias li tudo o que pude sobre o tema, tentando classificar as coisas em termos de certo e errado, bons e maus, vitimas e criminosos. Quanto mais lia mais longe parecia de encontrar uma reposta simples e cabal, pois ninguém está isento de culpas.

No parque perto do museu estava uma exposição clandestina de posters que reclamava mostrar a verdade sobre a guerra. Já tinha ouvido o argumento, pois é frequentemente recitado pelos Japoneses:

  • A população Japonesa era oprimida e foi forçada a ir para a guerra pelo imperador e pelas chefias militares.
  • Muitos Japoneses lutaram na Ásia sem quaisquer condições e muitos foram os que morreram vítimas de doenças, e não em combate.
  • Os Estados Unidos quando fizeram um embargo à exportação de petróleo ao Japão sabiam perfeitamente que o Japão não teria outro remédio senão entrar em guerra com o Estados Unidos, e fizeram tal porque tinham motivos ulteriores na Ásia (e a prova é que usaram o Japão como trampolim para as guerra da Coreia e do Vietname).
  • Os EUA lançaram bombas (atómicas e não só) sobre as cidades Japonesas alvejando a população cívil.
  • As tropas EUA eram rudes e maltrataram os Japoneses após a rendição.

Talvez o mais surpreendente é que corresponde tudo factos mais ou menos comprovados. Só que deixa de fora o resto dos factos:

  • O Japão tinha como objectivo liberar a Ásia das potências imperialistas ocidentais, mas na prática aspirava ao mesmo.
  • O Japão estava a levar a cabo uma guerra total, onde todos (incluindo mulheres e crianças) participavam no esforço da guerra.
  • As tropas Japonesas fizeram actos horrendos de extermínio, violação em massa, que ainda hoje são a origem de más relações diplomáticas com os países vizinhos.
  • Muitos Coreanos foram escravizados e levados a trabalhar no Japão. Muitos foram igualmente vítimas da bomba atómica em Hiroshima e foram precisos dezenas de anos até serem reconhecidos estatuto de vítima igual ao das vítimas Japonesas.

(E estes argumentos de ambos os lados ainda fazem correr muita tinha nos jornais; pois os governos actuais, quer do Japão e dos países vizinhos, insistem em reescrever a história impondo as suas verdades nos manuais escolares...)

Um dos posters do museu expressa bem a minha opinião após muito coçar a cabeça com este assunto:

Hiroshima Hiroshima

No fundo, a guerra torna quase todos simultaneamente em vitimas e criminosos. E além de andar a debater a verdadeira história do que aconteceu ou deveria ter acontecido à mais de 50 anos, mais ênfase deve ser dada a aprender com ela, e eliminar a guerra que ainda acontece no presente e salvar quem pode ser salvo.

Mas o que mais me emocionou foi a força de espírito e de solidariedade com que a população de Hiroshima superou a dor e reconstrui uma cidade devastada. Que o ser humano não tem limite no mal que pode infligir ao seu semelhante já deixou de ser surpreendente, mas enche sempre de esperança saber que também não tem limites para o altruísmo.

Hiroshima é agora uma cidade cheia de vida.

Hiroshima

15 julho 2007

Furacão

Hoje está a passar um furacão junto à costa do Japão. É um fenómeno curioso...

Às 6:00 da manhã estava a passar por onde estou a viver, em Iwata. O ruído da chuva e do vento a bater no edifício era ensurdecedor. Parecia que um mundo ia a acabar, e parecia que tinha de cancelar o mau plano de ir a Tóquio.

Quando me levantei às 7:30, já estava calmo -- como um dia normal de chuva. Resolvi apanhar o comboio. Mas na estação avisaram que as linhas estavam bloqueadas em Shizuoka, a 1hora de viagem à frente. Resolvi tentar a minha sorte convencido que haveria de passar rápido como tinha passado aqui.

Durante a viagem, os rios que antes estavam secos (tem sido um ano excepcionalmente seco no Japão), estavam quase a transbordar.

Quando cheguei a estação de Shizuoka realmente já se podia avançar mais um pouco, mas realmente muito pouco -- o furacão estava a seguir o mesmo trajecto que eu, mas mais devagar. Decidir voltar para trás, pois podia demorar o dia todo assim.

01 julho 2007

Fauna Japonesa

Sei que nao tenho escrito neste blog ultimamente, devido a falta de tempo. Mas agora que faltam dois meses ate ao fim do programa tenciono dar aqui o meu ponto de vista sobre varios aspectos do Japao. Quero advertir que, apesar de pessoalemente considerar essencial illustrar o texto com fotos, por enquanto nao vou incluir tantas fotos como ate aqui para poupar tempo. Contudo fica a promessa de adicionar mais tarde, caso consiga encontrar boas fotos.

A fauna Japonesa inlcui varios animais raros aos olhos de um europeu. Existem macacos nas florestas, tartarugas nos rios e no mar, e... serpentes nos canteiros. Tres dias atras, fui surpreendido por uma a caminho do trabalho. Estava toda enrolada mas parecia ter um ou dois metros. E eu estava de sandalias, a menos de dois metros de distancia. Felizmente a serpente parecia ter ficado tao surpreendida como eu, e comecou a descolcar-se na direccao oposta. Eu dei uma distancia de seguranca, e olhei a minha volta se havia alguem para dizer "Olha! Olha! Esta aqui uma serpente!". Mas nao estava niguem. A sensacao era a mesma de estar a ver-la num zoo, mas sem o vidro de proteccao...

Quando contei este episodio ao meus colegas de trabalho, eles riram-se, e ficaram surpreendidos por ser a primeira vez que vi uma serpente selvagem. E entao todos eles comecaram a recordar de quando eram pequenos, pegarem nas serpentes pela cauda e girar-las no ar. Perguntei se tinham veneno, e eles reponderam (ao estilo tipicamente Japones) : "Talvez nao..." Em Okinawa (uma das ilhas a sul do Japao), existe uma especie extremamente venenosa.

A partir desse dia, comecei a procurar pela presenca de serpentes pelos sitios que caminho, quer por curiosidade, quer por percaussao. E logo ontem, encontrei o corpo doutra, se bem mais pequena, atropelada na berma da estrada. Ou seja, as serpentes realmente abundam nesta zona, e provavelmente houve varios outros encontros ate agora que passaram despercebidos...

(PS: Escrevi isto a apartir dum teclado japones, dai a ausencia de acentos.)

06 maio 2007

Quioto

A cidade de Quioto é frequentemente associada entre nós ao Protocolo de Quioto, mas a verdade é que Quioto é uma cidade com um legado histórico e cultural riquíssimo. Quioto foi a capital do Japão desde o Séc. VIII a XIX (passando para Tóquio), foi poupada do bombardeamento aéreo na 2º Guerra Mundial, e alberga cerca de 2000 templos.

Eu passei apenas dois dias em Quioto. Isso, mais a enorme enchente de pessoas na Golden Week, deu apenas para ver uma mão cheia de lugares. Mas como conseguir por ver os mais famosos (e mais espetaculares) deu para atingir um bom nível de satisfação.

O primeiro templo que vi foi o kinkaku-ji (pavilhão dourado), assim designado por estar coberto na sua maioria por folha de ouro.

Kyoto Kyoto

De seguida fui ver o jardim de pedras. Este é um dos jardins inspirado pela filosofia Zen/Budista feito à base de cascalho. Talvez por ter um conjunto de valores estéticos demasiado diferente, achei dificil de apreciar. Mas o facto era que os Japoneses pareciam encatados, e ficavam longos periodos sentados na borda a vislumbrar o jardim.

Kyoto Kyoto

O seguinte foi o Ginkaku-ji (pavilhão prateado). Foi inspirado no pavilhão dourado, e era supostamente para ser coberto a prata, mas a falta de dinheiro levou a que tal nunca acontecesse. O nome ficou.

Kyoto Kyoto

Nem todos os templos actuais de Quioto foram construidos com essa intenção. Muitos foram construídos para servirem casas de retiro dos poderosos senhores feudais. Só mais tarde é que foram usados como locais de culto.

Um dos templos mais impressionantes foi o kyomizu-dera, monstruoso, e a sua bancada está assente numa estrutura de madeira com 13 metros de altura.

Kyoto Kyoto

Não eram apenas os templos que estavam cheios de visitantes. As ruas também.

Kyoto

Num dos jardins havia uma floresta de bambú. É uma arvore realmente interessante: até emergir da terra é comestível; mas depois de crescer e cortado, é tão duro e liso que leva a duvidar se é mesmo bambú ou uma imitação de plástico.

Kyoto

Quioto é realmente uma das cidades mais "tradicionais" japonesas. À medida que percorria estes lugares imaginava constantemente como seria a mesma paisagem com a presença os senhores feudais, samurais, e gueixas, os seus quimonos, e todas as regras de comportamento... E não é um exercício dificil, pois graças à forma vigorosa com que os Japoneses protegem e perpetuam a sua herança cultural: é perfeitamente normal cruzar com pessoas que ou vestem da mesma maneira, ou praticam os mesmos rituais, ou as mesmas artes que à centenas de anos atrás.

Golden Week

Ultimamente não tenho escrito nada neste blog, por estar ocupado com trabalho e sem nada de novo para mostrar. Mas esta semana isso alterou-se. O motivo? Hoje termina a famosa Golden Week — uma semana com quatro feriados oficiais! Estranhamente, o dia 1 de Maio não é um deles... mas grande parte das empresas faz ponte de qualquer forma. Sem dúvida, semana dourada é um excelente nome!

Pois nesta Golden Week, aproveitei para visitar Quioto e Osaka. Mais detalhes seguem em breve.

02 abril 2007

Cerejeiras em Flor

Os Japoneses têm uma adoração pelas cerejeiras. As cerejeiras em flor são uma metáfora para efemeridade da vida: o desabrochar é extremamente bonito, mas igualmente curto. Este fim-de-semana as cerejeiras em flor estavam no seu auge e também fiz de questão de participar nesta euforia nacional de ver as cerejeiras em flor.

Em qualquer lugar podemos ver as cerejeiras:

Sakura in Tokyo Sakura in Tokyo

Mas nos parques é que é realmente possível dislumbrar o espetáculo em massa. Fui a Kamakura, que tem uma avenida cheia de cerejeiras.

Sakura in Kamakura Sakura in Kamakura Sakura in Kamakura Sakura in Kamakura Sakura in Kamakura

Como extra, vi uma cerimónia de casamento fiel ao estilo japonês que ali estava a decorrer.

Wedding in Kamakura