23 setembro 2006

Odaiba

No fim de semana passado, fomos a Odaiba, uma ilha artificial na baía de Tóquio, com vários entretenimentos, especialmente museus.

Odaiba

Atravessamos a pé a Raibow Bridge para apreciar a vista.

Raibow Bridge Odaiba

Depois visitamos o Museu Nacional de Ciência Emergente e Inovação. Trata-se de um museu dedicado às novas tecnologias (genética, nanotecnologia, magnetismo, entre outras), mas é bastante particular pois quase todo o material exposto permite interacção com o visitante — afinal, estamos a falar do Japão! Isto torna o museu muito apelativo às crianças — há mesmo workshops para a construção de robots!

National Museum of Emerging Science and Innovation

Da minha parte, uma vez que não queria dedicar o dia inteiro para o museu, teria perferido mais conteúdo escrito, e menos conteúdo interactivo. A parte mais interessante para mim, foi o concurso de interactividade inovadora feita por alunos universitários Japoneses, onde pude ver gerigonças muito divertidas e geniais. Alguns dos trabalhos já tinha visto antes — o (meu irmão) Tiago visita frequentemente sites relacionados com novidades tecnológicas do Japão — estou certo que ele também reconhecer estas fotos: (um deformador de objectos via luz estroboscópica, e uma impressora de gotas)

National Museum of Emerging Science and Innovation National Museum of Emerging Science and Innovation

Pelo caminho passmos por uma praia...

Praia Praia

... e pelo edifício Fuji TV, com uma arquitectura muito peculiar.

Odaiba

Asakusa

Asakusa é zona de Tóquio onde vou viver até ao final de Dezembro. Vivo numa mansão (que no Japão significa um prédio de apartamentos com muitos andares) — Asakusa Weekly Mansion. Podem ver a vista satélite do prédio e da área circundante.

Comigo estão a viver mais 6 colegas do programa Vulcanus. Podem ver 5 deles nesta foto:

Os meus companheiros de dormitório

Eles são (da esquerda para a direita): o Marco, Italiano, arquitecto; o Federico, Italiano (mas já percorreu 1/2 mundo, e também fala fluentemente Espanhol, e Português com sotaque Brasileiro), arquitecto; o Rafael, Espanhol, informático; o Nino, Italiano, informático; e o Dries, Belga, arquitecto. O ausente na figura é o Guillaume, Frances, informático. Ele já tinha uma namorada Japonesa antes de vir para aqui, por isso, está quase sempre ausente... Ele é de todos participantes vulcanus o que melhor domina a lingua Japonesa, e está numa classe muito avançada.

A norte do dormitório está o edifício da famosa (a nível nacional) marca de cerveja e refrigerantes Asahi, com forma de uma caneca de cerveja. Ao lado está outro com forma de uma chama olímpica.

Asakusa

A oeste do dormitório está o rio Sumida.

Rio Sumida Rio Sumida

Dia sim, dia não, faço jogging ao longo das margens do Rio. A vista é sempre fantástica, à excepção das centenas (ou mesmo milhares em toda a extensão do rio) de sem-abrigos que fizeram destas margens seu lar, em pequenos caixotes azuis (em baixo).

Rio Sumida

Do outro lado do rio está uma grande zona comercial.

Asakusa

Perto podemos encontrar o famoso Kaminarimon...

Kaminarimon Kaminarimon

... um enorme portão que está na entrada do templo Sensoji, um templo em madeira do ano 628 — o mais antigo templo existente Tóquio.

Templo Sensoji Templo Sensoji Templo Sensoji

19 setembro 2006

Onsen

Um dos ícones da cultura Japonesa é a onsen — banho de águas termais. A região de Shizuoka (para qual vou viver em Janeiro) é famosa pelas suas onsens, mas descobri num livro sobre Tóquio que na área onde vivo (Asakusa) existem duas onsens de qualidade e acessíveis, e por isso resolvi experimentar uma ontem, a Jakotsu-yu.

Foi complicado encontrar a onsen, que estava num beco escuro e sem vida, mas após várias iterações com as pessoas na rua lá dei com o lugar. Na entrada da onsen torna-se evidente o facto de estarmos no Japão: temos de retirar os sapatos ao entrar e colocar-los dentro dum cacifo, existe outro cacifo para o guarda-chuva. Existe também uma máquina de pré-pagamento cheia de botões para escolhermos o tipo de banho, que produtos de higiene queremos comprar (shampoo, sabão), e se queremos bilhetes múltiplos ou passes para o mês inteiro. Felizmente os botões tinham tradução em Inglês, mas isso não evitou de ficar 3 min a decidir o que queria...

Existe um protocolo bem estabelecido de como comportar numa onsem ou casa de banho pública Japonesa. Fiz questão de dizer que era a primeira vez que vinha a uma onsem, e o staff indicou-me um poster animado com as principais regras:

  • Tomar um duche antes de entrar na onsen.
  • O duche deve ser tomado sentado, e não em pé, nuns pequenos bancos.
  • Tirar bem o sabão antes de entrar na onsen.
  • Não levar calções ou qualquer roupa para a onsen.
  • Levar uma pequena toalha para a onsen, mas nunca mergulhar-la na água da onsem.
  • Enxaguar bem antes de retornar para os vestiários.

Com muita calma, para não quebrar nenhuma regra, lá fiz o ritual. Tomar um duche sentado não é lá muito cómodo — fiz o máximo para não me rir de mim próprio e manter um ar sério. Observei antentamente como os outros conseguiam fazer tal proeza eficazmente, e tentei copiar.

Depois segui-se o onsen própriamente dito. Já me tinham avisado que a água era tão quente que deixava a parafernália masculina literalmente cozida — "que exagero", pensei eu. Mas a realidade de entrar no banho tornou a analogia bem verdadeira! Contudo, ao fim de uns minutos essa sensação desaparece, e conseguimos relaxar.

De inicio cheguei a ver um outro ocidental, mas pouco depois eu era o único ocidental dos 30 a 40 homens que lá estavam, e talvez por isso era alvo de alguma atenção. É complicado socializar nestas condições, mas lá exclamei para uma pessoa ao meu lado: "Atsui desu ne?" (Está quente, não está?). Ele concordou, e depois tivemos a conversar um pouco sobre as onsens, portugal, e o que estava a fazer no Japão.

A coisa mais chocante, inesperadamente, foi quando a senhora responsável do onsem entra no vestiários dos homens como se nada fosse! Eu mal queria acreditar, e olhei duas vezes para confirmar que não estava a ver mal. Felizmente, já tinha os boxers vestidos. Doutra forma estou certo que tinha dado um grito e um salto até ao tecto! Mas devia ser algo perfeitamente normal, pois os outros homens continuavam a limpar-se orgulhosamente enquanto a senhora limpava e arrumava algumas coisas... E esta, hein?

O banho foi sem dúvida relaxante, e a experiencia foi engraçada. Hei-de voltar novamente, e talvez leve os meus colegas, mas não lhes vou avisar da senhora! He, he, he...

Eis uma foto da onsem retirada da internet:

16 setembro 2006

Nikko National Park

Como tinha dito, no último Domingo foi ao Nikko National Park fazer uma caminhada.

Nikko National Park

A viagem foi longa e cansativa (3 horas para lá em comboio e camioneta, mais 3 e meia para cá). O precurso supostamente marcado como "médio/fácil" foi na minha opinião díficil (6 horas e meia sempre a caminhar, com grande declives, e piso humido). Mas no global a experiência foi positiva. As paisagens eram muito belas, o tempo agradável, e foi um bom escape da vida citadina.

Foi só pena não termos tido tempo para dar um mergulho nesta bela lagoa, ou relaxar na onsen (termas de água natural).

Nikko National Park

Mais fotos aqui.

Sumo

Ontem os professores da KAI Japanese School leveram-nos para ver ao vivo a final do compeonato de Outono de Sumo — o desporto nacional do Japão.

Antes, fomos almoçar a mesma comida que os lutadores de Sumo comem — chankonabe — um pote quente com uma calda de vegetais, carne, e massa udon. Estava delicioso. E talvez por a temperatura ambiente ter finalmente baixado, ou inspirado no invejável físico dos lutadores de Sumo, não só recuperei o meu apetite, como tive um ataque de fome: comi até não sobrar comida no meu pote, nem no pote ao lado. Gochisousama deshita — a frase dita no Japão quando se comeu com satisfação!

Depois os professores explicaram-nos (de forma encenada!) as principas técnicas de Sumo (cortesia do Daan que gravou esta divertida explicação).

O espetaćulo desenrolou-se na arena de Sumo em Ryougoku.

O espetáculo propriamente dito foi uma surpresa (nunca tinha visto uma luta de Sumo). Cada luta é precedida por um longo ritual de apresentação, levantamento de pernas, manifestação de força, que dura cerca 5 minutos. A luta propriamente dura geralmente 10 a 15 segundos e é decisiva — não há segundo round ou algo parecido. Esta assimetria é no mínimo estranha para nós, mas deriva de conceitos profundamente enraizados na cultura Japonesa, nomeadamente o conceito de Wa — que simboliza a procura da harmonia, paz, e balanço — valores que os Japoneses valorizam mais do que meramente a obtenção de gratificação imediata.

No final das duas horas que duraram os vários combates a opinião dos europeus era unânime: a luta de sumo é fascinamente, e as técnicas usadas surpreendentes, mas o tempo de espera... é insuportável (especialmente para quem dorme pouco) ZZZzzz :P

Telemóvel novo

Comprei um telemóvel novo na semana passada.

Se vocês acham que na compra de um telemóvel é difícil decidir qual o melhor modelo, o modo de pagamento, se compensa ou não aceitar pacotes de desconto de mensagens ou minutos de conversa, imaginem isso tudo em Japonês! No total estive 2 horas e meia a discutir na loja até finalmente assinarmos o contrato, eu e o Jani. O pessoal da loja foi excepcionalmente simpático, pois teve o cuidado (e a paciência) de explicar tudo de forma a podermos entender, e ficou connosco bem após a hora de fecho da loja.

A comunicação foi de partir a rir: recorriamos à mimica, dicionários de bolso, dicionários electrónicos. Eu parecia uma criancinha na idade dos porquês: sempre que o staff explicava que tinha de pagar algo eu chorava doushite? e o pessoal escancarava-se a rir... e depois lá me tentava explicar e convencer (seguro do telemóvel, custo de activação, etc.) :P

O modelo que comprei foi o Sanyo A5514SA. Inclui câmara fotográfica/video, browser de internet, dois ecrãs a cores (um no verso), um reconhecedor óptico de kanjis, dicionário Japonês-Inglês, menus em Inglês, e GPS. Ah! Também faz chamadas!! O telemóvel custou-me 0 yienes, mais 1000 yienes (7 euros) para o seu seguro.

O meu número é +81 9093877339. Posso receber/fazer chamadas de/para o estrangeiro. Contudo não consigo receber/enviar SMSs — aqui, como todos os telemóveis têm acesso à internet, usam o email para esse fim, o que até é fixe, pois posso mandar/receber e-mails não só entre telemóveis mas qualquer endereço de email. O email do meu telemóvel é jrfonseca arroba ezweb ponto ne ponto jp.

Podem me ligar se quiserem — não sei quanto vos pode custar, mas a mim não me custa nada, pois não se trata de roaming. Contudo, nada de me acordar à noite! Não se esqueçam que são 8 horas de diferença entre a hora de Portugal e o Japão!

11 setembro 2006

O sono dos Japoneses

Um dos aspectos mais caricatos dos Japoneses é a forma como eles dormem.

Em qualquer altura do dia podemos encontrar japoneses a dormir no metro, autocarro, ou comboio. E surpreendentemente, não se enganam na estação que teêm de sair. Há várias teorias a circular entre o pessoal do programa Vulcanus sobre como conseguem tal proeza. Uns dizem que existe um sistema em que eles recebem uma mensagem para o telemóvel quando chegam à estação pretendida. Outros dizem que eles (graças à genética, ou a uma vida inteira de treino) têm um sono muito leve, e conseguem reagir quando houvem o nome da estação no altifalante. O metro de Tóquio é extramamente fiável (nunca se atrasa), e por isso, uma prática (usada até entre nós) é programar o telemóvel para tocar um alarme um minuto antes da estação em que queremos sair.

Contudo, há uma altura em que o autodomínio do sono Japonese deixa de funcionar. Como não há metro desde sensivelmente as 00:30 e as 5:00 da manhã, e um táxi para médias/longas distâncias só é acessivel a quem é podre de rico, o típico Japones de Tóquio que quizer sair à noite tem de ficar na disco até às 5:00, e apanhar o primeiro metro do dia para ir para casa. Nessa altura, a falta de sono (aliada a um pouco de álcool no sangue) dá origem às situações inimaginavelmente hilariantes, como esta.

Sim, aquele gajo a rir-se no vídeo é nada mais que a minha pessoa, que estava a voltar para casa com os meus companheiros de dormitório, após uma ida a uma discoteca em Roppongi. O Federico gravou este vídeo com o telemóvel novo dele. Após esta cena, decidi deixar algum espaço, mas a rapariga continou a fazer o mesmo sem o meu encosto: ora se deitava, ora rapidamente se levantava, mas sem dar qualquer sinal de consciência. Após praticamente cair ao chão, tomamos a acção de acordar-la — foram precisas três pessoas e 2 minutos para elar retomar consciência. Ela levantou-se, saiu na seguinte estação, sentou-se num banco de espera, e imediatamente retomou o seu sono...

Nessa noite, metade dos meus amigos adormeceu na metro e perdeu a sua estação. Na verdade, só não fui um deles porque tinha mais compainha — mantinhamos acordados uns aos outros!

O meu quarto

O meu quarto tem mais apetrechos do que espaço. Mas estou satisfeito! O tamanho é o compromisso de viver no centro da cidade (estou a 30min da escola de japonês, enquanto há colegas com quartos bem maiores, mas a 2 horas de distância...) E ao fim de algum tempo, arranjam-se técnicas para manter o nível de caos dentro do razoável!

Entrada

Podem ver várias as fotografias do meu quarto (com as respectivas descrições) aqui.

09 setembro 2006

Primeira semana

Ufh! Passou uma semana desde cheguei. O tempo foi demasiado escasso para escrever aqui. Tive de comprar muitas coisas a vários sítios e tratar de variada burocracia. As aulas de Japonês já começaram, e como a falta de puntualidade é muito mal vista aqui, e o metro é uma complicação, tenho de sair bastante cedo. Ainda não tenho condições para cozinhar, e por isso à noite também janto fora com o pessoal. Em suma, chego a casa tarde, e com vontade de tomar um banho e ir directo para a cama.

Mas o mais importante é que está tudo a correr bem. O pessoal que veio comigo é mesmo muito fixe. Os japoneses são extremamente simpáticos. E até agora não posso dizer que tenha sofrido um choque cultural — apenas as complicações resultantes de ir viver para um novo país.

A grande dificuldade aqui é sem dúvida a língua. Felizmente o meu ano de aprendizagem de Japonês em Portugal foi uma preciosa ajuda neste aspecto, pois permite-me a simples comunicação falada do dia-a-dia. Contudo, os conhecimentos rudimentares de kanji (os caracteres chineses) fazem de mim praticamente um analfabeto, pois apenas consigo ler 1 a 5% do que gostava/precisava de ler. Isto é particularmente mais importante a ler catálogos, ou as intrucções de equipamento — é uma sensação muito estranha a de ver vários avisos a vermelho de atenção/cuidado nas intrucções de um equipamento e novo e não fazer a mínima ideia do que se deve ou não fazer... Mas essa (o estudo de Japonês) será a grande luta deste quatro meses, e tenciono estudar ao máximo.

Amanhã vou ao Nikko National Park, ver o cenário e fazer uma caminhada com algum do pessoal que também partilha esse prazer.

Assim que tiver algum tempo extra, hei-de escrever uns posts sobre os vários lugares que já fui neste tempo, incluindo a zona onde vivo. Até breve!

01 setembro 2006

Chegada ao Japão

Cheguei!

Depois várias tribulações no aeroporto de Heathrow — éramos 40 inicialmente mas parecia que em etapa (check-in, controlo de segurança, embarque) mais alguem desaparecia. Mas lá entramos todos neste bicharoco:

A viagem foi longa (9 horas), e só consegui dormir metade do percurso, pois já tinha dormido no hotel, e devido à mudança de fuso, o dia durou apenas 16 horas. Fiquei sentado ao lado de um jovem casal de Japoneses. Com muita vergonha perguntei: "Hanashite ii desu ka?" (algo como "Posso falar um pouco com vocês?"). Eles responderam que sim, e lá falamos sobre o que eu ia fazer, a viagem deles de férias a Espanha, e sobre o sítio onde vou ficar a partir de Janeiro, Shizuoka.

Aterramos no aeroporto de Narita, Tokyo. O tempo estava péssimo. Parecia que tinhamos entrado numa casa de banho depois de um banho — estava quente e húmido, e não tardou a chover fortemente. Não havia quase ninguem no aéroporto, pois o último dia de férias tinha sido na véspera, e quase todos os Japoneses já estavam de volta ao trabalho ou à escola. (Infelizmente não tenho fotos, pois estava demasiado ocupado com a bagagem.)

Depois fomos recebidos no centro EU-Japan, apresentados ao staff, e esperamos que pessoal da companhia nos levasse para os dormitórios.

Não fiquei num dormitório da companhia, mas sim um escolhido pelo centro porque a Yamaha não tem dormitório em Tokyo. No mesmo dormitório estão mais seis colegas em situação idêntica — um verdadeiro golpe de sorte, pois a maioria dos colegas ficaram sozinhos e espalhados por Tokyo. O dormitório fica mesmo perto do rio Sumida que atravessa Tokyo, e demora cerca de 30min desde o centro ao dormitório.

Nakamura-san, uma administrativa do centro, foi connosco para nos indicar o caminho — é muito complicado orientar no metro de Tokyo, pois é imenso, e nem sempre as paragens estão escritas em romanji (ou seja, no nosso alfabeto). Ela também nos ajudou a registar no dormitório e explicou todas as regras do dormitório. Depois levou-nos a um restaurante de sushi para terminar o dia em beleza!

O meu quarto é muito fixe, e trás baterias incluídas (ar condicionado, televisão, internet, casa de banho com chuveiro, frigorifico, microondas, forno eléctrico), tudo em 12 m2, mas deixo mais detalhes para um outro post, após ter arrumado quarto e as malas.

Hoje e amanhã vamos fazer compras e passear um bocado só por nossa conta, ou seja, carregados de mapas e dicionários!!