07 outubro 2006

O cliente é rei

Expressões como "o cliente tem sempre razão" existem por todo o mundo. No Japão, a expressão usada é "o cliente é rei" e é interpretada a um nível raramente visto...

A minha mala danificou-se na viagem de avião até ao Japão. (Nunca mais compro uma mala rígida pois a mala furou na viagem Porto-Bruxelas, e na viagem Bruxelas-Japão perdeu a roda e toda a zona envolvente, e já é uma mala substituta da que comprei, que tinha rachado quando fui aos EUA. As companhias pagam sempre mas é uma chatice ter de perder horas nos aeroportos a preencher formulários e ler instrucções de procedimentos, daí que tenciono comprar uma mala de lona para as viagens de avião.) Em qualquer caso, segui os tramites normais para recuperar a mala, uma vez que para viagens de comboio ou carro uma mala fixa serve perfeitamente.

O procedimento normal é enviar a mala por correio e a companhia aérea tenta concertar. Assim fiz, e inclui toda a informação (tal como o recibo de compra). Ontem recebi uma chamada da companhia aérea. Começou pela pergunta qual língua preferia, Inglês ou Japonês? Como o meu vocabulário em Japonês para este género de situações não é muito abrangente, respondi que Inglês seria melhor. Seguiu-se silêncio e depois alguma hesitação, pelo que retorqui "Japonês também serve!" e assim foi. A menina pediu-me imensa desculpa, pois não conseguiam concertar a mala (o que não me surpreende, pois era um grande buracão que tinha!!), e disse-me que iam enviar um catálogo de malas, do qual podia escolher qualquer mala do catálogo, e perguntou-se eu aceitava... Nesta altura eu já tinha um sorriso de orelha a orelha, mas esforcei-me para responder com uma voz firme "sim, não há problema". O catálogo chegou hoje, e o preço das malas vai até aos €200 (a mala custou-me €80)! :D

Mas a minha história não é primeira do género que tive conhecimento. Num dos seminários sobre o Japão que tive, o locutor contou o episódio em que foi almoçar um restaurante com a mulher e, inadvertidamente, uma funcionária tropeça e verte a comida por cima da mulher. Imediatamente, todas as funcionárias acorrem em círculo à senhora, enxaguando e limpando-a, enquanto o gerente pede imensa desculpa (ao marido, claro!), que é culpa dele por não ter dado suficiente treino e motivação aos seus funcionários. (Um aparte interessante é que ninguem olha para o sucedido — todos os outros clientes fazem de contam que nada aconteceu, para não criar constrangimentos.) E enquanto as funcionárias levam a senhora para tratar dela, o gerente diz que pode escolher tudo o que quiser do menu — que é por conta da casa! Ao fim da tarde, a mulher apareceu, com um novo pentiado e um novo vestido!

O sentimento é geral — no final uma pessoa acaba por sentir-se feliz por aquela infelicidade ter acontecido! Sem dúvida que se sente rei! :)